sábado, 19 de abril de 2008

Naomi

O vento mudou de direção. Há muitas noites que venho te procurando com as mãos quando já deitada na cama. Procuro-te cega, na escuridão do quarto, mas só encontro a gata dormindo com as patas cruzadas.

Ofereceste-me uma ausência. Não aceitei, acostumei-me.

Em quatro meses estarás com outras, na cama com outra, nos olhos de outra, nas palavras de outra, cantarolando para outras. Quatro porque dois já foram. Não lembrarás do tom da minha voz, nem que eu vestia cinza no dia, nos dois primeiros.

Daqui a quatro anos não saberás por onde tenho andado, nem te esforçarás em perguntar aos milhares de amigos em comum: como ela está? Ainda lê? Tornou-se filósofa?
Em quatro anos eu não escreverei pra ti, não te procurarei e nem balbuciarei teu nome no vão da noite.

Não dou espaço para dúvidas ou incertezas. Sinto frio. Um frio que se alojou em minhas pálpebras. Um frio que me nega calor. Ao menos um dia estive apaixonada.
Sei.
Não, não sabem! Ninguém sabe.

Poderia ter aceitado o que a vida me deu. Eu poderia ter sido feliz. Poderia. Sugestivo. E se...
Não, ela não estaria lá e quando ela não está eu me perco no vazio, meu ego ecoa e eu posso ficar surda de razões.

É mais um adeus? É. Por que me perguntas ou por que me pergunto se sei das respostas cada detalhe?

Não me percas jamais. Jamais porque "nunca" é uma palavra muito forte.
Não te perco... nunca!

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