Laura ligou. Disse que esteve com a gata, a mesma que me arranhou deixando marcas até hoje. Disse que a viu arranhar outra antes de mim. Eu não quero me importar com o antes, mas o depois me machuca.
Não sei quanto tempo essas cicatrizes ficam. Não saíram ainda nem do estágio de sangue. Sangra todos os dias, suja os lençóis, as camisetas e meu corpo. Acostumei-me a ver o vermelho escorrer debaixo d'água. Não dou conta de fazer curativos.
A gata tem aparecido. Não liga, não avisa, nem manda carta antes. Só aparece, vez ou outra, cantando. Não sei quando é pra mim ou se só canta por cantar. O problema é que não consigo cansar de tanto mistério.
Passou um tempo desde a última canção, a que dizia que pertenciamos uma à outra, que mesmo com tantos no mundo dispostos a nos machucar, nós seriamos, no fim, uma da outra. Passou tanto tempo e, com ele, ela também passou.
Ela foi e meus desvios me fizeram andar por outros caminhos. Olhos, olhos. Estes olhos que me engolem sem querer. E agora sou eu quem canta o que me foi cantado. E agora sou eu quem quer o que me foi negado, e dar o que não deram à ela. Porque eu sou sua Ofélia, amor. Porque eu sou seu caminho e é à mim que tens que deixar louca. Porque eu também sou menina pequena e também me perderia em ti. E porque, acima de tudo, eu hei de não escutar quem me diz que tu não me queres.
Me contaram da tua mudança, amor. Por que estás partindo de mim? É tão cedo, não tem motivo. Fica, me leva, foge pra sempre... comigo. Não de mim!
O teu beijo costumava ser amargo em outras épocas. Hoje, se doce for, enveneno-me. Não que eu goste de doce, mas a tua doçura é o mal que eu quero morder. E então me queres, mesmo quando dizes que não falas. E mesmo me queres quando eu penso que não te quero. Sempre que falamos que não é nada, é por medo de envolvimento porque, tu dissestes, amor... almas gêmeas são tão contrárias que uma precisa achar a outra pra se sentir completa. Nós somos contrárias em muitas coisas, só não no sofrimento. Mas eu sou única, tanto que nem existe uma alma perdida pra minha. E nós não estamos procurando almas mesmo.
Se em um dia frio me vires e, por vontade, me quiseres deixar com os lábios mais rosados, não te acanhes em roubar um beijo e sair andando como se nada fosse nada. Foi assim da primeira vez. Eu não estranharia uma segunda. Se por acaso quiseres acordar com as mão grudadas nas minhas, não hesite em pedir, o teu desejo alto é meu silêncio.
Agora, quando resolveres me pagar o que deves, com juros, e sentares ao meu lado, e me beijares, e me pegares a mão, e assistir aos filmes que te falei, e em meio a alguma cena eu balbuciar a fala e tu me perguntares o que eu falei, saiba que era tudo o que eu gostaria de dizer pra ti.
Embora existam todas estas arianas que tu tanto queres combinar com teu signo, e essas outras que se declaram sem juízo algum, eu aguardo a tua ferida cicatrizar, como eu tenho feito com a minha. Mas pra isso, amor, tu precisas de cuidados, que só podem ser dados de maneira certa e por mim.
E se tu fosses minha, eu te daria agora todas as minhas senhas, as minhas chaves, e te deixaria entrar conforme tu quisesses, nos cômodos que quisesses. Mas tu te negas, tu te proíbes e arranjas farpas para que tudo se torne impossível.
Depois de tudo passado, depois da ferida curada... só vai doer se a gente esquecer da gente, uma da outra. Ou se apenas uma esquecer.
Boa noite, doce. Durma com as flores e sonhe com os amores.
quarta-feira, 7 de maio de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Ah, bruta flor do querer...
Ah, bruta flor, bruta flor!
Postar um comentário