sexta-feira, 7 de março de 2008

Para o amor que não veio.

Ela chegou em casa após horas e horas de trabalho. Havia guardado tudo em si, sem demonstrar. Dalila era tão intensa que não demonstrava nada. Talvez por isso, por guardar tão bem, ela era por inteira afável, era amor.

Chegando, tirou a roupa, tomou banho e, ainda nua, com todas as gotas mal secas, atirou-se na cama de lençóis branquinhos que a camuflavam e chorou até não ter o que molhar. A casa estava alagada daquela água que era dela.

Durante três dias e três noites ela pensou que iria morrer. Durante três longas semanas, Dalila foi zumbi. O que não era tão mal, pois zumbis não amam.

Fevereiro mais uma vez era o mês dos desamores, era costume, acontecia todo ano. Dalila, com 26 anos, ainda não havia aprendido isso. A cada desilusão ela precisava mudar de casa. A cada uma desilusão ela mudava a cor dos cabelos, mas não adiantava, tudo continuava igual.

Sabendo que vive em um mundo de efêmeros, que já diria alguém, "onde eles andam?", ela ainda buscava o eterno. Mas o eterno era ela.

Mesmo que o romantismo tenha sido deixado de lado, mesmo que as cartas de amor tenham passado a ser bregas, mesmo que se declarar tenha vindo a ser motivo de risos, mesmo que se gabem em cima dos sentimentos alheios, todas as manhãs Dalila acordava e, arrumando-se, pensava vestir vermelho para encontrar o amor. Na esquina, no café, na livraria. Esperava flores secretas, cantos e qualquer coisa que não viesse assinado, para depois ser descoberto.

Dalila havia sido partita. E de que adiantava eu dizer para ela que a paixão dura de dois meses a dois anos? E de que adianta colocar prazo de validade em sentimentos? Ela, melhor que eu, melhor que ninguém, sabia que não é verdade. A ilusão!

Ela pensou que passaria o dia dos namorados com alguém. Mas o dia dos namorados não é pra isso. Não para ela que passa todos os anos lendo livros e decorando frases, como se fosse um dia qualquer, um primeiro de abril dos que gostam, dia da mentira para os que amam um dia. Dia em que todos os casais, que daqui a um ano estarão se odiando, saem para comemorar juntos um amor que não existe.

Desde que foi banalizado, que os que pegam e não se apegam nasceram, Dalila viu o mundo com olhos de ódio, olhos tristes de desesperança. As pessoas reclamam das pessoas. Dizem que não há ninguém, mas não existe um esforço para melhorar. Elas cometem os mesmo erros que julgam. Ela só queria alguém que pudesse entender isso, que gostasse de astrologia e que, mesmo assim, não acreditasse que fogo e água sejam opostos.

Descobrir a traição, relevar a traição e mesmo assim a indiferença aparece. - Ninguém é capaz de me amar, não tanto quanto eu. Não tanto quanto eu me amo. - Desde criança, quando ainda haviam fios claros nos cabelos, Dalila buscava o amor nas brincadeiras. Tudo tinha final feliz. Ela cresceu sendo a mulher mais linda do mundo aos seus olhos. Mas em fevereiro sempre a pisam, sempre derrubam seu ego.

Os relacionamentos para ela têm prazo também. Dois meses, assinando o contrato, e não se fala mais nisso. E não adianta tentar.

6 comentários:

~santhi disse...

Sim, eu lia.. não postava.. aliás, essa vida virtual é um caos, perdi senha, login, etc etc.. 2 vezes já.. de e-mail e blogs. como disse - C.A.O.S!

Mas não me estresso mais. fora que passei um tempo adoentada, e voltei agora apenas, depois de muito ar puro.

Sobre seu texto.. "prazo de validade" na minha modesta opinião é muito triste, já tentei isso algumas vezes, simplesmente por ter tanto medo de encarar alguns medos. Isso se chama "avoidance", mas deixa para lá. Amo sua escrita!

- abs

Carla olavio disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carla olavio disse...

u lá lá.
quando escreveres um livro eu vou comprar. Com contrato e tudo, e não se fala mais nisso.
poderei edita-lo. e fazer seu projeto gráfico, capitando toda a essência da escrita, permitindo as pessoas comprarem o livro pela capa... sem se preocupar.

logo que trabalho em uma editora de um livro só. por enquanto.
;)

temos 4 anos pra fazer sucesso.
me liga.
:*

Suellen Verçosa disse...

Como existem Dalilas...
Acho que traços dela escorrem por mim!

E como é bom ler cada linha que escreves, é como ler pedaços de várias mulheres que nos constroem!

Bjus moça!
Passei um tempo sem vir, mas estou de volta por aqui, pelo seu espaço!

Marília Alves disse...

só pra que saibas, ou melhor, para que lembres que estou aqui e que não te esqueço. que sou metade quando te ausentas.

Ana e Mel. disse...

Também já fui Dalila...
Essa história de ter prazos é tão doída e vazia!
Adorei o blog... escreves muito bem!
Posso linkar?
Beijos,
Rachel.