terça-feira, 29 de janeiro de 2008

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Jamais a vi tão doce. Resolvemos viajar este final de semana. Estamos, no momento, em um quarto todo nosso, e só nós dentro dele. Ela está escovando os dentes, uma das únicas coisas que não temos feito juntas. Estou afundando cada vez mais nessa loucura. Loucura?

Viemos boa parte da viagem conversando. Vez ou outra ela colocava a mão sobre a minha perna e me olhava com um sorriso. Eu desviava, sempre desvio. Depois, fazia um carinho e voltava a falar sobre coisa qualquer. Como eu venero a insignificância dela para os detalhes. Como eu gosto quando ela me olha assim, há tanta afabilidade nos gestos.

A parte em que não conversamos, adormecemos. Uma grudada na outra como se, se não o fizéssemos, pudéssemos nos perder. Ela me toca de um jeito que me arrepia a alma. Ela dormiu primeiro, eu fiquei olhando pr'aqueles olhos puxados e a boca bem desenhada. Como é branquinha!

A viagem, de cinco horas, pareceu durar minutos. Os dias lado a lado sempre viram minutos! Eu não sei se pra ela... eu sinto saudades de convivência. Chegamos não muito cansadas pois haviamos dormido e então fomos comer algo. Até comer, quando é na companhia dela, torna-se mágico.

Já passa da meia noite, logo após o banho ela foi escovar os dentes. Já escovei os meus. E essa vontade de contar e registrar cada passo dela, meu, nosso pra que nada se perca, não me larga. Eu gostaria de colocar as horas com os minutos e os segundos mas me taxariam de louca.

Amanhã sairemos para conhecer a cidade. Ela disse estar com saudades. Eu pude mimá-la a viagem inteira. Quanto carinho existe em mim! Quanta vontade! Eu não posso desperdiçar nenhum abraço sequer.

Talvez não passe de superficialidade. Impulsividade. Ela disse que sente saudades, mas eu sei que é agora e depois passa, com os dias. A minha não.

Agora vamos dormir.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

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O poema dormiu, de novo. O meu, dessa vez. E todo aquele sentimento também dormiu com ele. E eu e ele estávamos juntos, na mesma cama, eu do direito e ele do esquerdo, mas não deu tempo, quando eu fui falar já era tarde.
O poema dormiu ao meu lado. E todas aquelas palavras olhavam para mim assim, preguiçosas, como eu quando acordo e olho para ti. Eu estava o dobro, sonolenta, meio dopada de tanto ler as entrelinhas, não entendendo nada.

O meu poema, dentro de ti, não dorme. Se tu fosses um livro eu comprava e leria e releria e tentaria traduzir para todas as linguas possíveis e falaria no sonho em castelhano e te abriria e comeria cada letra e te comeria. E tu, como vício que és, que te tornas, te apossas de mim.
Tu não cabes em páginas, não cabes mais em mim! Simplesmente não cabes. E agora estás saindo pela capa, e pelo pára-brisas, e pela porta do quarto, e pelos meus poros e por mim. Mas tu não transbordas, tu não te tornas ausente aqui.

O poema, aqueles todos que têm aroma e cor e riscos e o alfabeto-inteiro-em-dó-maior, não pára de choramingar e reclamar. Ele não quer mais dormir. Ele disse que tu estás longe e que ao meu lado não dorme. O que eu sinto? Saudades. Agora não és tu quem transbordas, é essa coisa toda que me prende aqui. Eu não saio da cama, do quarto, desse quadrado branco. E o poema berra e grita e esperneia me pedindo pra que tu voltes, mas tu não faz questão, tu vives.

O poema morre. Ele morreu. Morreu de abstinência, de amor. Morreu de abstinência de amor. Tu fizeste falta, talvez fosse o objetivo. Quem sabe tu estejas feliz por alguém morrer por ti. O poema morreu de saudades, provando que a morte pode ter causas sentimentais. Morreu de desgosto ao saber que és tão rasa, tu não deixas que um pingo de coisa-qualquer, que seja, te faça transbordar, como o que houve comigo. Tu tens o teu fluxo, e disso não passa.
Mas o tempo é tempo, mesmo que nós não saibamos o que significa até os sete anos. Mesmo que ele se arraste com paciência. Mesmo que eu não tenha o tido para mostrar isso à ti. E o tempo te fará transbordar, te esgotará, romperá teus limites, cedo ou tarde.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

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Aos amores que me deixaram esperando, sentada, qualquer coisa, qualquer doce ou palavra, quem sabe palavras doces. Eu esperei com tanta vontade, com tanta convicção que viria, que meu tombo nem doeu, a realidade foi fácil... o que dói é tentar acreditar de novo.

Aos que me deixaram, pelo simples fato de desconsiderarem uma chance, um sentimento. Que foram porque não viram porquê seguir em frente, ou perderam a vontade de me ver, ou não viram mais graça nem cores ao meu lado, nem ouviram sininhos ao me beijarem.

Os que nunca vieram e me deixaram aqui, indignada, imaginando, tentando ver o perfeito, procurando tom por tom de nota, achando em cada canto, juntando partes, criando algumas, o que não existe e construindo monstros.

Aos que virão para novamente me deixar e, assim, aumentarão a lista, os nomes e as dores. E talvez um desses, pegue meu coração em pó e leve para alimentar os pombos da praça. E que, por favor, não deixe meu coração no formol, conservando tudo lindo, tudo inteiro. Que sejam bons comigo, uma vez.

E ao que está agora, eu digo: que venhas, pra me deixar, mas que venhas. Que te entregues, que pintes e bordes o meu coração, que marques nele toda essa mentira. Que transpareça todo esse falso sentimento. Que tu te dês inteiro, que me tome. Que tu cante, e toque e conquiste-me quantas vezes tiveres que fazê-lo e que eu retribua, sempre doce, sempre "sim".
Quero cores, todas as cores em aquarela, para que venhas com força e com "não" e manches tudo. Um balde de água fria, molhando, borrando e misturando tudo em cinza, com gosto amargo de nada com nada.
Meu coração ainda não é peça fundamental para alguém, nem eu dou o valor merecido. Se desse, não me lastimaria tanto. Ele ainda não é farelo, ainda não serve de alimento. Eu preferia ter um caroço no lugar de um pedaço de gente.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

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Talvez isso tudo seja só porque sentes medo, só conformidade, certeza de que eu gosto. É cômodo saber que a eu estarei ali para quando quiseres, como quiseres, que farei o que quiseres e a posição que pedires. Se eu fosse mais difícil, talvez, tu serias mais fácil.

Eu estou cansada da minha insegurança, dessa instabilidade, falta de carinho e de sentimento. Eu estou cansando de duvidar, de pensar e de querer. Se eu cansar, um pouco mais que seja, eu dou as costas de novo, e de novo, e de novo pra me arrepender mais adiante. Eu estou exausta de momentos, e só momentos. Sou mimada e, se for assim, eu não quero. Mas é mentira, eu faço tudo pra que me queiras um pouquinho que seja.

Eu não sou de conquistas, de pedidos nem de declarações. Eu sou fechada, amor, e tu não percebes ou não queres perceber? Tu poderias me puxar mais vezes, me chamar e falar com menos carinho do passado.

Aqui estou eu preparada para mais uma dose de descaso, fingindo não me importar com a indiferença. Dizendo para outro eu que está tudo bem, que não é amor, que não tem nome, é só isso, isso que a gente precisa, assassinar o tempo com beijos e depois partir um para cada lado e mais uma semana sem uma palavra.

É como se me escrevessem em folhas quando eu li a parte que falava sobre quando tu sais e me perguntas se esquecestes algo, eu também tenho vontade de gritar: esqueceu sim, eu! E quando firmas a pergunta dizendo: não tem nada meu aí? E eu querendo te lembrar que sim, tem eu. Eu sou tua! Mas você sabe, e eu sei que existe uma falta de espaço.

E sabe, todas as coisas e as pessoas perdem a cor e a graça. Tudo, todo o passado fica sendo nada, porque nada pode ser comparado com agora. Embora haja o lado ruim, todo o pesadelo, o sonho serve para desmanchar isso.

Eu tenho calado meu coração, entorpecido ele para que não fale por mim dizendo que há, sim, sentimento. Dizendo que a gente não é só isso que paece ser, que não é indefinido, que tem nome, que tem significado e que pode ser lindo se alguém ceder. Eu cedi, e estou com sede de ti.

"Eu já era sua antes mesmo de saber que você um dia não ia me querer."