sexta-feira, 11 de abril de 2008

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Eleonora,

estou apavorada. Não havia acontecido antes. Ainda não sei o que é, sei que quando te vejo me vem uma vontade imensa de tirar minhas vestes e deitar-me de bruços em teu colo, te olhando, em um quarto vazio, coberto por cortinas e paredes brancas, sem luz, só a que entra pela varanda, a nossa varanda, cheia de vasos e gatos.

Estou te escrevendo porque prefiro te avisar agora, antes que a situação se agrave e eu consiga fazer de mais um coração, inverno. Prefiro que saibas, desde já, que eu não sou, nem nunca fui, tudo o que alguém pensou ou quis pra sí. Esse gelo externo vem de dentro. Essa má vontade no amor.

Mas, Eleonora, eu quero que sintas o agora. Que entendas e lembres que desde que te vi, eu te desejei. Que os meus beijos foram dados com a maior intensidade. E que nos momentos em que estive ao teu lado, eu não precisei te tocar pra sentir alguma coisa, eu passaria horas só olhando.
Que as tuas dúvidas quanto ao que eu penso, são as minhas respostas de sim pra ti. Que eu jamais ficaria brava após te adoçar a boca e que se fico calada de uma hora pra outra, é porque eu não preciso de palavras pra que me entendas.

Eu não estou tentando decifrar, nem faço questão, não é o momento. Ao mesmo tempo que penso assim, queria saber detalhes do que se passa em mim. Em ti eu não sei, vez ou outra tenho medo de saber, e curiosidade. Estraguei-me tanto, tu não és estragada.

Eleonora, sabes me dizer o que é isso? Não sou boa em nomear sentimentos, nem com precipitações. Sabes? Às vezes eu penso que é só mais um tombo, um devaneio. Uma vinda que logo vai. Isso me dá medo, não por mim, estou acostumada.

Entendes de signos? Sabes que minha lua é em gêmeos? E sabes que a lua fala sobre sentimentos? Eu sou inconstante, Eleonora, e a nossa vida corre risco. A nossa vida que é feita de afabilidade. Porque não se vive sem isso, não é vida, é sobrevida.

Te conheço tão pouco, Eleonora e no entanto já fazes parte de mim. Tu realmente me queres? Por inteiro? Às vezes eu tenho dúvidas. Medo das minhas reações. Medo das intenções, de não levar à sério, de deixar passar a coisa mais linda da vida por um simples receio de gostar.

Sou um animal! Tu bem sabes, tu não és tansa. Percebes por tudo o que aconteceu antes. Eu sou arisca, quanto mais te aproximas, mais eu me afasto, mas eu não estou conseguindo tão facilmente agora, isso é algum problema? Estou enlouquecendo, querida, não consigo derreter essa bola de neve que se fez na porta da minha alma, não consigo derreter essa frieza que me faz.

Eu espero que isso dure o momento que tenha que durar, pois estou cansada dessa minha impulsividade que me toma a calma e me faz desistir de mim, de tudo. Eu não posso agora. Tudo tem que ser perfeito. Nós somos perfeitas, não teria porquê. Espero que eu não fuja mais uma vez. Quero me acolher, como felina, em um coração só. Um coração de mimos. Mas sou virginiana e tudo tem que ser completo aos meus olhos. Eu espero que permaneça toda essa vontade.

Te peço desculpa desde agora se eu errar em algum momento.
Quero-te, pequena.

Violet.

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