quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Tijolos de Goiaba

A televisão ficou ligada o dia inteiro. Estou ouvindo uma música que escolhi, mas que não ajuda em nada para escrever. Tem melodia demais. A televisão passou tudo o que tinha que passar. Não para mim, mas sim para os livros que ficaram no sofá. Onde eu estava? Não sei. Dormindo, talvez.
Eu estive por tanto tempo adormecida. É improvável que não percebam pelos meus olhos eternos de sono. Eu dormi por tempos indeterminados. Preciso mudar a música. Pronto, outro jeito.
Não sei o que acontece, me desculpa? Não tenho tido palavras pra dizer, escrever. Acho que gastei-as, esqueci-as. Talvez até as perdi por ai. Mas não, não anunciarei minha perda pelas paredes de supermercados, espero que quem as ache faça bom uso.
O fato é que tenho ciúmes delas, é um apego sem desapego. Estou dolorida por terem me abandonado. Quem dirá que elas também sofrem por pensarem terem sido abandonadas? Sinto-me só, pequeninas, e peço que voltem logo, loguinho. Com o vento, e com as plumas, e com as penas, e com a felicidade. Nem tristeza me faz tê-las de volta. Sempre que estive triste, elas vinham me visitar. Desta vez ousaram me deixar, apenas com os soluços.

Mas, olha... tão triste quando as palavras não serem mais reféns destes dedos, é não ter a presença de outra coisa, ou pessoa. Queira alguém nunca sentir-se assim, só.

Solidão, ainda bem que chegastes roubando minha solidão. Nunca fiz questão de saber o que me faltava, até que faltou. Agora, sempre que posso, abro os olhos e sinto esse vazio que deixas quando partes daqui. Da sala, do quarto, da cozinha. Quando teu reflexo não está atrás do meu no espelho das paredes verdes.
Sempre que não quero, sempre que não desejo, entrego uma parte minha, sem saber, à ti. Vez ou outra me questiono o quanto estou me colocando em tuas mãos. Mas não é de meu gosto, é só a natureza me fazendo vulnerável e fraca ao teu charme e a tua doçura, que vem derrubando cada tijolo, que não são feitos de goiaba, dos meus muros que eu demorei tanto pra solidificar, um a um.
Todos os dias eu sou salva. Não me espanta mais saber que não me salvo, mas que me salvas como super-qualquer-coisa que és. Como super-devoradora-de-tijolos-de-goiaba. Como super-adoçadora-de-corações-azedos. E me salvas apenas com tuas mãos, colocando-as em forma de concha, como se eu fosse muito pequena, e não tuas mãos muito grandes. E me pegas no ar enquanto eu caio, e me deixas no chão. E quando queres, por ingrata que sou, me jogas no ar de novo, apenas pra que eu sinta medo e dependencia, apenas pra que eu te peça socorro, aflita, com medo de me esborrachar em um chão duro, sem as tuas mãos.
Já não é segredo pra ninguém: eu te amo. Ninguém têm dúvida ou tenta ultrapassar isso. Ninguém, nem tu, acredita tanto nessa sede que eu sinto de ficar ao teu lado. De ser vista contigo e por ti. De andar de mãos dadas, de te guiar, de ser teu ombro, de ser teus olhos, de ter teu corpo e ser o teu amor. De me sentir segura ao apertar a tua mão.
Pelo tempo que vier, por um tempo que passou. A vida só foi vida após o dia 26. Dure o tempo que durar...

...a minha vida.

6 comentários:

aluah disse...

Engraçado... vejo estamos numa situação parecida.

Unknown disse...

q lindo... vc escreve mto bem... brinca com as palavras... parece um quebra-cabeça q no fim mostra uma linda figura!!!

beijos, flor, e boa quarta!

lucy in the sky
http://pequenospecados.zip.net

A autora. disse...

Nossa...lindíssimo seu texto! Você está de parabéns!!!!
Me identifiquei com tanta coisa que você escreveu...gostei muito daqui!
Beijos,
Lud.

http://lud-lorenzetto.blogspot.com

Suellen Verçosa disse...

Porque agente sempre procura ser salva hein? Eu ás vezes me pego esperando por esse dia, por um segundo, por acreditar que nesse segundo minha existência valeu a pena!

Lindo seu texto.

Totalmente profundo e de uma essência totalmente frutal!

=D

Abraços B. (tava ansiosaaa pra ler por aqui)

Josh Ágora disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Josh Ágora disse...

Você, minha querida, dispensa quaisquer tipos de comentários. Você rouba nossas possibilidades de dizer...

Grande abraço.

J.