terça-feira, 3 de junho de 2008

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O dia havia de chegar. O dia em que eu deixaria de ser a personagem, sairia das palavras, das letras, do papel. O dia em que todas essas mulheres, essas meninas, essas ninfetas colegiais resolveriam sair daqui e tomar espaço, e conquistar corações, e sofrer amores impossíveis, e viver a não-vida que é essa coisa de sobrevivencia. Mas não chegou.

Contrariando o costume dos outros anos, neste, maio foi o mês ao qual Olívia não se dedicou. Amou pouco, desejou pouco, leu pouco, escreveu pouco e, por conseqüência: viveu pouco. E esse não viver não fez falta. Talvez um pouco a frente ela sinta o arrependimento de ter perdido ele, de deixar a vida passar, de olhar pela janela como se tudo fosse nada. Como se isso, esse corpo, esse nome que lhe deram fosse o que bastasse.

Também por conseqüência talvez ela esteja mais intensa em junho, em julho... os pares são um desastre na vida de Olívia. Esse ano é par. E números pares, para ela, são como pares na vida. Olívia não é par de ninguém, nunca foi. Nem mesmo nas festas juninas, ou nas apresentações de final de ano. Olívia sempre era ímpar ou tinha que dividir o "par" com mais uma, o que os tornavam um trio, de TRES.

Ela a deixou. Isso é um absurdo! Mais uma vez alguém a deixou, mas dessa vez foi ela, aquela que jamais a deixaria. Aquela que disse que não era efêmero. E a deixou assim, pior que qualquer outro animal que não pode falar, ela a abandonou com a boca colada e o coração aos cacos. Nem a procurar ela pode. Nem lhe falar o que sente. Nem lhe pedir um colo. Nem deixar claro que sentiu, que não era só isso, que havia mais, que ela estava disposta, que poderiam ir além. Ela não deixou nada disso, mas deixou-a.

Pamela havia acendido todas as luzes, uma por uma, pra depois corta-las de uma só vez e deixa-la no escuro como se, por falta de algo, como o pagamento de uma conta, como a liberdade, como a pouca dependecia dos pais ainda existente, fizesse com que tudo pudesse ser jogado por água abaixo. E por isso ela deixou Olívia no escuro por exatos tres meses.

Cortem-lhe a cabeça!

Um comentário:

Juliana Dacoregio disse...

Por pura curiosidade dá vontade de saber os acontecimentos exatos que inspiraram este conto.